05 dezembro, 2006

Conto Espirituoso, por Beatriz e Ivo


Era a terceira vez que aquele copo e aqueles lábios se encontravam, no bar.
Era um copo masculino, com aspecto sensual, com alguns anos bem vividos nas bocas da vida. E os lábios eram bem definidos., femininos, “sexys”: eram ainda novinhos, mas com um maravilhoso toque acetinado. Eram ingénuos, corados pelo batom, ao contrário do copo que conhecia todos os brindes da vida e era doido por filmes de Champanhe francês. O copo gostou desta situação: aqueles lábios juntos, tocando-lhe suavemente como se ninguém estivesse lá. Sem perder tempo, verteu as bolhinhas do champanhe, naqueles lábios delicados. Os lábios ficaram um pouco atrapalhados, pois estavam mais habituados aos licores: perdiam-se por Baileys com gelo. O copo sentiu que estava a controlar a situação: mais um trago daquela bebida espirituosa e os lábios ficariam caidinhos. Com o que o copo não contava é que o batom dos lábios ficasse indelevelmente marcado em si. Entretanto, os lábios afastaram-se e, às doze badaladas, tocaram nas doze passas. O copo “vazio” sentiu-se usado, pois só tinha servido para aquela ocasião. A vida é assim: às vezes pensamos que vamos usar alguém e afinal somos nós os usados.

Beatriz e Ivo


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